quarta-feira, 10 de abril de 2019

Série documental ‘A Cidade no Brasil’ investiga a formação urbana do país

“Uma criança na janela do avião consegue olhar para baixo e dizer: ‘Mamãe, olha, uma cidade!’. A cidade ela é facilmente identificável, o problema surge quando nos perguntamos o que é uma cidade?”. Assim começa a série documental A Cidade no Brasil, inspirada no livro homônimo de Antonio Risério, que abre o primeiro episódio com essa indagação. Dirigidos por Isa Grinspum Ferraz, os 10 episódios, todos disponíveis no streaming do SescTV, misturam história, filosofia e cultura para remontar a formação urbana do país. Entrevistas com especialistas e pensadores se intercalam poeticamente com cenas de filmes, videoclipes e novelas nacionais para fazer o espectador refletir nas diversas demandas político-sociais que uma dinâmica urbana tem.

No primeiro episódio, A cidade, além de Antonio Risério, os arquitetos Guilherme Wisnik, Renato Cymbalista, Marta Bogéa, Ermínia Maricato e o idealizador do Cooperifa, Sérgio Vaz, entre outros personagens, discorrem sobre os mais variados temas em torno da formação histórica e social de uma cidade. Temas como a colonização, a formação de favelas e a importância da cultura nos espaços públicos formam um corpo pensante muito rico em torno de algo que para quem não estuda o assunto, parece só pano de fundo para o cotidiano. “A cidade é o lugar físico e simbólico do encontro, da postulação como diferença da possibilidade de relação”, defende Guilherme Wisnik.

A partir dessa macro pensata coletiva sobre a cidade e suas características físicas, históricas e imateriais, a série se destrincha em temas mais específicos, como a influência da revolução agrícola no crescimento desordenado dos centros urbanos no Brasil (episódio 3) e a importância das culturas africanas na construção desses espaços (episódio 4). É engraçado perceber como um país colonizado teve muito de seu colonizador implantado por aqui, mas não na esfera urbana: o formato “cebola” da estética renascentista, com grandes centros concêntricos (pense no Arco do Triunfo em Paris ou na Londres e seus anéis geográficos), não foi implementado por aqui, por exemplo. No episódio um, o levantamento sobre a demora que uma pessoa leva para chegar e sair da Zona Sul de São Paulo para o Centro à trabalho se conecta com essa explicação. O que torna a série uma grande enciclopédia arquitetônica, urbanística e cultural para entender os movimentos que nos trouxeram até aqui.

Com a colonização, veio, infelizmente, a escravidão. O Brasil foi o país que teve o maior número de escravos no mundo e o último a abolir esse sistema desumano. E isso não fica e nem pode ficar de fora da nossa percepção diante das consequências desse momento na história do país. No episódio 4, A cidade africana, fica claro, por exemplo, como essa tardia abolição levou à formação de periferias e o agravamento da segregação social, um problema enfrentado até hoje e definido pela arquiteta e urbanista Ermínia Maricato como as ‘senzalas urbanas’ – leia Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre. Antonio Risério alerta logo no começo dos 24 minutos o quanto a cultura africana está presente no dia a dia do brasileiro, menos pela estética urbana e arquitetônica. Discussão essa que reflete diretamente na diversidade, como alertou a arquiteta e escritora Joice Berth. Mais detalhes, Vale o Clique!

Via Casa Vogue

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