Escritórios especializados em bioconstruções assinam projetos de linhas contemporâneas, que em nada lembram choupanas na floresta.

Os métodos de construção não são novidade. Processos antigos, como paredes feitas de terra, têm se mostrado soluções baratas e eficientes.

A lista de vantagens proporcionadas pela parede de terra é vasta, segundo especialistas.
"As paredes respiram e regulam a temperatura, dispensando ar-condicionado, e absorvem até 80% da umidade, o que evita o mofo", explica o bioconstrutor Marc van Lengen, 56, do Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura Tibá, em Bom Jardim (RJ).
A resistência da parede de terra é parecida com a de alvenaria, diz o arquiteto e urbanista Flávio Duarte, 36. Fundador do escritório Biohabitate, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), ele se baseia em estudos realizados em outros países, como Estados Unidos e Espanha, e em testes que ele conduz.
"Em laboratório, alcançamos resistência para executar paredes estruturais de terra ensacada em casas de até três pavimentos", afirma.
Os acabamentos também são naturais e produzidos a partir da terra. O reboco, por exemplo, pode ter aparência irregular, mais rústica, ou ser afinado com a adição de polvilho. "A parede fica lisa como uma cerâmica", diz a arquiteta Nilce Pinho, 49, do escritório paulistano Gera Brasil.
As tintas à base de terra já permitem novas cores. "Além dos tons terrosos, é possível produzir tinta natural branca a partir da terra argilosa tabatinga e usar colorizantes vegetais, como a beterraba."
Nilce está em fase final de construção da própria casa, em Piracaia, no interior de São Paulo. Ela e os sócios Karen Ueda, 45, e Antônio Carlos Vissotto Jr, 45, lançaram mão de uma série de técnicas sustentáveis. Pelo projeto, o trio acaba de receber o prêmio Saint-Gobain de Arquitetura Sustentável.
Um dos destaques é o telhado, com estrutura curva de bambu. As hastes foram envergadas e receberam tratamento de borato de sódio, que protege contra cupins.
Sobre o bambu, duas chapas de compensado OSB e uma camada de manta aluminizada servem de base para as telhas do tipo shingle, escolhidas em função da leveza. "A estrutura de bambu não tem apoio de alvenaria e não suportaria o peso das telhas cerâmicas."
Segundo Flávio Duarte, as bioconstruções deixaram de ser uma demanda de tribos alternativas. Ele conta que já ergueu casas ecológicas para todo tipo de gente, tanto em comunidades rurais quanto em condomínios de luxo.
Uma das dúvidas frequentes de sua clientela diz respeito ao custo: bioconstrução é mais cara ou mais barata?
Segundo Duarte, sai elas por elas: os materiais custam cerca de 30% menos, mas gasta-se mais com a mão de obra.
"Operários não estão acostumados com o serviço. É preciso contratar especialistas que gerenciem a obra e capacitem a equipe", diz.
A maior economia é percebida quando o imóvel está em uso. A casa de Nilce Pinho ganhou um biodigestor que trata o esgoto e transforma os resíduos em biogás para a cozinha. Ela também investiu em cisterna para captação de água de chuva, que será destinada aos dois banheiros.
"A descarga é responsável por 33% do consumo de água em uma residência, gasto que vamos eliminar."
DO QUE É FEITA UMA CASA ECOLÓGICA
Paredes
São erguidas usando a técnica hiperadobe, na qual o barro é acondicionado em sacos de fibra sintética, que são compactados e empilhados. Depois de seca, a parede recebe reboco e tinta naturais
Janelas
Vidros temperados com película reduzem em até 78% o calor transmitido pelo sol, dispensando o ar-condicionado
Telhado
A estrutura sob as telhas é feita de bambu ou madeira de reflorestamento
Água
Cisternas de captação de chuva alimentam a descarga do banheiro, reduzindo a conta em mais de 30%
Energia elétrica
Painéis solares conectados à rede enviam o excedente de energia à companhia, transformando-o em créditos
Esgoto
Um biodigestor faz o tratamento do esgoto e gera biogás para cozinha. O equipamento deve ser limpo a cada cinco anos, e os rejeitos viram adubo
Paisagismo
Espécies nativas, que exigem menos manutenção, são complementadas com recursos reaproveitados – pátios e escadas podem ser revestidos com garrafas e sobras de madeira da obra
Via Folha de São Paulo
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