Há 24 anos eu tive a honra de conhecer pessoalmente o arquiteto Siegbert Zanettini.
Em Goiânia embarquei no ônibus e fui pela primeira vez para a cidade de São Paulo.
Lembro que cheguei na cidade, a maior que eu já tinha conhecido até então, em plena greve dos trabalhadores do transporte público número reduzido para os ônibus e em velocidade lenta nos metrôs, para minha decepção pois era a minha primeira vez naquele tipo de transporte público.
Sai da rodoviária direto para o escritório @zanettini_arquitetura. A emoção do "encontro" com o edifício que eu só tinha visto em revistas foi algo mágico, emocionante. Eu fiquei do outro lado da rua, parado. Era um “alvo” fácil, não bastasse minha linguagem corporal, eu levei uma mochila comprida roxa e uma outra nas costas.
Dentro delas uma "traquitana" de coisas que a tecnologia da década de 1990 poderia oferecer, uma câmera fotográfica do meu pai com um filme de 36 poses, um gravador, uma filmadora. E um receio enorme de não conseguir fazer nada daquilo funcionar. O que de fato ocorreu.
Ao chegar no escritório fui informado pela secretária que uma chamado urgente em uma das obras do escritório mudou a agenda do arquiteto, que eu previamente havia marcado por telefone.
Mudança mais que compreensível. Aguardei o dia todo, e aproveitei para tirar as fotos com a máquina fotográfica do meu pai, até que veio a notícia de que não seria atendido, e Zanettini gentilmente me pediu desculpas pela secretaria.
Deixei o Itaim Bibi e fui em direção oposta para Itaquaquecetuba. Levei 6 horas para chegar até meu destino, a casa das minhas primas e tia que lá moravam. A “operação tartaruga” na rede de transportes deu certo naquele dia, cheguei por volta das 23 horas e deixei todo mundo preocupado na casa, principalmente minha prima Valéria que me recebeu na rodoviária e traçou o plano para voltar do escritório para a casa dela.
Tive que reorganizar a agenda, abri mão do Museu Brasileiro da Escultura, de Paulo Mendes da Rocha, e priorizei a entrevista com o arquiteto e a visita ao MASP e outras galerias no meu último dia de viagem na cidade.
No dia seguinte, depois de 4 horas de viagem, cheguei novamente ao escritório e fui encaminhado para uma pequena sala de reuniões, e aguardei ansioso o encontro com o arquiteto. Zanettini era para mim, e ainda é, um dos maiores arquitetos brasileiros.
A porta da sala é aberta me levanto e nervoso me apresento, ainda incrédulo. A primeira fala do arquiteto foi de pedir desculpas, explicou que teve que ir à obra, explicou os detalhes técnicos de uma escolha de material que ele teve que acompanhar. Eu incrédulo e trêmulo pensava se tudo aquilo estava realmente acontecendo. Em seguida mostrei meu roteiro de as perguntas, e falei um pouco do meu trabalho. Era um trabalho de graduação, um TCC, um dos três que existiam na PUC GOIÁS (tecnologia, teoria e história e projeto).
Conversamos por horas, ouvi atentamente o que ele pensava sobre a industrialização da construção e como a tecnologia do aço poderia ser um suporte para impulsionar as desigualdades sociais brasileiras, evidentemente sobre a habitação de interesse social. Foi um dos momentos mais emocionantes da conversa, porque a voz embargada e os olhos marejados demonstraram uma sensibilidade enorme pela situação da maioria dos brasileiros que vivem em condições subumanas.
Ao final ele me perguntou qual era meu programa de pós graduação. Eu,sem graça, pedi desculpas pois não havia me apresentado direito, expliquei que eu era um aluno da graduação da Universidade Católica de Goiás. Nesse momento, Zanettini se emociona e fala do legado do arquiteto-professor. Ele ficou surpreso de receber um aluno de outro estado, ainda mais da graduação.
Aprendi muita coisa sobre arquitetura com Zanettini, mas naquele dia levei para mim uma lição ainda mais importante sobre a profissão do arquiteto-professor: humildade. Em seguida falei disse que aquele encontro tinha sido uma grande honra, e que eu tinha vivido naquela tarde a experiência mais significativa da minha vida acadêmica, e que ele já era e seria uma inspiração para a minha carreira como arquiteto, e mais tarde como arquiteto-professor.
Naquela tarde voltei para a casa da minha família pensando sobre o universo que se descortinava à minha frente. A minha primeira visita à São Paulo, exposições belíssimas e meu primeiro contato com a fotografia, mas isso é assunto para outro texto.
Por hoje basta agradecer ao arquiteto Siegbert Zanettini por tudo.
Muito obrigado, mestre.