Um poema sincero de Gabriela Silveira.
Quem não se reconhece nestas palavras?
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DESENHO: BRÁULIO VINÍCIUS - "OUTRO EU" |
Outro eu de nós
Procurei a satisfação como quem procura um salário alto.
Perdi as palavras como quem perde um amigo.
Atolei na mesmice como o carro que atola na lama.
Repeti o mesmo erro que não gosto de cometer, fui o mesmo ‘eu’ que nunca gosto de ser, fui falso modesto, humilde hipócrita, subi no palanque do político mais idiota.
Ah vida que plantei... Em meus sonhos havia um caminho diferente, mas que não cultivei.
Sobre meus ombros um mundo cruel que não quis cuidar, abandonei-o paralítico, sem poder andar.
Julguei o próximo como quem julga o diabo, condenei todos a serem odiados.
Mas nunca, nunca olhei nos olhos de quem sou, nunca encarei a dor que em mim se alojou.
Hoje procuro a satisfação no que não me compraz, perco amigos como quem perde as palavras, atolo na lama como quem atola na mesmice insana do cotidiano, na qual o ser humano é apenas um acessório descartável.